Uma questão de classe, de Joanne Harris


Ficha técnica
TítuloUma questão de classe
Autora – Joanne Harris
Editora – ASA
Páginas – 494
Data de leitura – de 30 de setembro a 09 de outubro de 2017

Opinião
Continuo a saga de deitar abaixo a pilha de livros que habitam as prateleiras dos não-lidos. Já estamos em outubro e ando ainda a ler aqueles que recebi em janeiro, aquando do meu aniversário! É claro que as leituras que trago da biblioteca da terrinha contribuem e muito para este mais do que significativo atraso, mas confesso-vos aqui, com um sorrisinho matreiro e uma piscadela de olho, que não me incomodo com o contínuo engordar da referida prateleira!... Aliás, poucas coisas me dão tanto prazer como olhar para ela, contar os livros que ainda tenho para ler e saborear com aquela antecipação gostosa a certeza de que eles estão ali, à minha espera J
Uma questão de classe, da minha querida “velha amiga”, Joanne Harris, foi a primeira obra que li daquelas que aterraram cá em casa em 2017. Todos os que me vão acompanhando aqui no blogue sabem que tenho um carinho especial por esta autora e a que muitas das suas obras atribuí a nota máxima. São exemplos disso Cinco quartos de laranja e Praia roubada. E, para grande alegria minha, a Uma questão de classe também não tive outro remédio que dar-lhe 10/10, porque, resumidamente, me agarrou e me surpreendeu do princípio ao fim!
Guiados por um professor e um antigo aluno, franqueamos os portões do Colégio de St. Oswald, um colégio exclusivamente masculino e algo avesso a ser contagiado pela modernidade. Num edifício histórico, proliferam os quadros a giz, os quadros de honra que remontam a muitos anos atrás, o cheiro a bafio, as poltronas deformadas, que encaixam que nem uma luva nas formas corporais de quem as usa para descansar após um dia esgotante de trabalho e professores, disciplinas e metodologias de ensino que assentam na tradição, na experiência e num formalismo que deixaria os alunos de hoje em dia estarrecidos.
Roy Straitley é professor de Latim há 34 anos em St. Oswald. Conhece as suas paredes, os seus recantos melhor do que os de sua casa, já que, para além de professor, foi ele próprio aluno do colégio. Está prestes a atingir a idade da reforma, mas essa perspetiva assusta-o, pois não concebe a sua vida fora de St. Oswald, sem transmitir os seus ensinamentos a miúdos que lhe alegram ou agitam os dias, que fazem com que a sua vida continue a fazer sentido. Prepara com afinco mais um ano letivo, apesar de saber que este será um ano de muitas mudanças, a começar pelo facto de o colégio vir a ser gerido por um novo diretor, que não é, nada mais, nada menos, do que Johnny Harrington, um ex-aluno seu, por quem sempre sentiu uma clara antipatia.
Estão assim lançados os dados para uma narrativa viva, pulsante, que nos cativa desde as suas páginas iniciais e que nos vai prendendo como dizem os amantes do xadrez que nos prende um jogo estrategicamente muito bem jogado. Vamos viajando de 1981 a 2005, através da perspetiva de Straitley e de um antigo aluno, conhecendo-os pouco a pouco, tentando saber com um crescente desespero o que esteve por detrás da condenação e consequente prisão de um antigo professor, tentando entender a animosidade que estala entre Straitley e Harrington e ficando assombrados com a mestria e a genialidade de Joanne Harris, que consegue, como muito poucos autores conseguem, agitar a trama com reviravoltas que nos fazem questionar tudo aquilo que tínhamos como garantido desde o início da leitura.
Como é percetível, adorei regressar ao mundo de Joanne Harris. Adorei voltar a ser surpreendida, adorei ler mais uma obra fantasticamente bem urdida, que puxou por mim desde a primeira página e sobretudo adorei Roy Straitley, com quem tenho o privilégio de partilhar a profissão. É uma personagem deliciosa, que nos arranca muitos sorrisos, por quem ganhamos um carinho que não para de crescer e a quem perdoamos todas as imperfeições. Ficará comigo por muito tempo, sem dúvida alguma.
Resta-me dizer-vos que esta obra é a “sequela” de outra que já li há mais de dez anos e da qual pouco ou nada me recordo. Falo-vos de Xeque ao rei. Fui ainda agora retirá-la da estante e prometi a mim mesma que a relerei muito em breve, porque quero regressar a St. Oswald, quero voltar a conviver com Roy Straitley e quero regressar ao mundo de Joanne Harris, que tanto me enche as medidas!
Termino rogando-vos que leiam Uma questão de classe! Não se arrependerão, prometo! A mestria de Joanne Harris não permite que haja arrependimentos!

NOTA – 10/10

Sinopse
O colégio de St. Oswald é antigo e cheio de tradição.
Mas nos seus imponentes salões e longos corredores, sopram agora ventos de mudança. A vaga de modernidade parece imparável e inclui a admissão de raparigas, novas tecnologias, uma possível "fusão" com um colégio feminino, e até um novo diretor. É por esse motivo que Roy Straitley, o excêntrico professor de Latim, decide adiar a sua reforma. Há mais de trinta anos que Straitley dá aulas em St. Oswald, onde ele próprio estudou.
Para ele, a escola é o seu lar e a sua vida. Enquanto faz os possíveis para manter a tradição, o professor descobre que o novo diretor é nada menos que um ex-aluno seu, um rapaz cuja memória nunca deixou de o atormentar. E que representa agora uma ameaça que apenas Straitley consegue antever. Pois o novo diretor é admirado por todos. Mas por entre o pó de giz que cintila sob o sol de outono e o ranger das tábuas do soalho ancestral, há sombras que se agitam… e alguém que aguarda o momento certo para ajustar contas com o passado. 

Uma história única de obsessão, vingança, devoção e amor.

6 comentários:

  1. Eu leitora snob me confesso: nunca li Joanne Harris. Talvez por ser tão estimada e bem-sucedida, sempre achei que seria muito comercial e glicodoce para mim. Contudo, herdei uns livros dela de uma amiga minha que já não os queria, por isso, não perco nada em dar-lhe uma oportunidade, não é?
    Paula

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    1. Eu consigo compreender esse teu "snobismo". Contudo, o lado comercial e "chocolatesco" da autora é enganador e há obras que de glicodoce não têm nada, como "Cinco quartos de laranja" ou "A Praia roubada". Dá-lhe uma oportunidade e depois diz-me alguma coisa! Afinal, tens aí uma herança a que deves "limpar-lhe o pó" e juntas o útil ao que prometo que pode ser agradável.

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    2. Já vi pelo comentário aqui em baixo que não sou a única de pé atrás com a autora... Mas do filme Chocolate gostei muito. Herdei o Rapaz de Olhos Azuis e a Praia Roubada, mas vou pegar primeiro neste último agora em novembro.
      Achas que preciso de ler Xeque ao Rei para perceber Uma Questão de Classe?
      Beijinhos e obrigada pela recomendação.
      Paula
      Achas que preciso de ler

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    3. Sim, até aqui em casa há quem não tenha grande estima pela autora, mas entretanto, com a leitura desta obra, reviu essa estima e de "Uma questão de classe" passou de imediato Para "Xeque ao rei".
      Sinceramente não acho que tenhas que ler um para entender o outro. Eu li "Xeque ao rei" há muitos anos e não senti que a leitura de "Uma questão de classe" ficasse prejudicada pelo facto de não me lembrar de quase nada do seu antecessor.
      Beijinhos e bom fim de semana! Depois diz-me alguma coisa quando te embrenhares numa das obras da autora ;) Aproveito para dizer que não gostei muito de "O rapaz de olhos azuis"...

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  2. Olá Ana,
    Não sei porquê tenho sempre um certo preconceito relativamente aos livros da Joanne Harris. Acho que vão se sempre muito romances desinteressantes. Mas já vi que não. Vou ter mesmo que ler a autora ;) e por causa de quem?!
    Beijinhos e boas leituras

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    1. Oi, Isa!
      Esse preconceito é-me muito familiar, pois até o meu marido torce o nariz às obras desta autora. Mas dá-lhe uma oportunidade, só para tirar a cisma e depois diz-me como é que correu a experiência, se venceste o preconceito ou não ;)
      Beijinhos e leituras muito saborosas.

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