Balanço mensal dos livros lidos por todos os leitores cá de casa - Junho de 2019


Olá! Sei que tenho andado muito afastada deste cantinho, mas está a ser muito difícil conciliá-lo com o cantinho nas bandas do Booktube. Contudo, para tentar redimir-me, deixo-vos o vídeo que publiquei no canal, onde dou a conhecer todas as leituras que nós os 3, os leitores cá de casa, fizemos ao longo do mês de Junho! Espreitem e, se puderem, comentem!
Espero que o mês anterior vos tenha dado leituras muito saborosas!


O Diário de Hendrik Groen aos 83 e 1/4 + Um homem chamado Ove, de Frederik Backman


Olá!

Durante o mês de maio, li duas obras que abordam um tema que me derrete, que me enternece e que me atrai sempre - falo-vos de narrativas protagonizadas por velhotes. Decidi retirar estas duas obras da estante, porque a Dora, do Canal Books and Movies, organizou um mês dedicado "aos idosos malucos" e eu, obviamente, saltei logo de entusiasmo e, mal pude, mergulhei em duas narrativas que me tocaram muito e por razões evidentes, mas diferentes!
No vídeo que vos deixo aqui, explico o quanto Hendrik Groen e o Ove ganharam, por direito próprio, um cantinho muito especial no meu coração literário e que, como devem calcular, tem proporções elásticas e está sempre pronto a abrir os braços a mais personagens inesquecíveis! Espero que espreitem e me digam, aqui ou no canal, se já leram estas obras, se participaram neste projeto e se me aconselham outras obras de velhotes malucos, mas enternecedores!




En abril leemos en español


Olá ou Hola!

Sei que ando algo desaparecida e que tenho dado pouca atenção a este cantinho... As razões são as que já partilhei convosco em outros textos - canal no Booktube, principalmente, e onde a interacção é muita e muito produtiva. Para tentar manter-vos a par do que vou fazendo por lá, deixo-vos aqui os vídeos que dizem respeito ao projecto que pus aqui em marcha o ano passado e que, pelas razões que neles explico, organizei este ano de novo e dei a conhecer no meu canal. Se estiverem interessados em saber em que consistiu o projecto "En abril leemos en español", de que forma foi posto em prática e a fantástica adesão que teve, vejam os vídeos e, já agora, subscrevam o canal, porque é por lá que me mantenho mais assiduamente e é lá que publico opiniões, balanços mensais, livros novos que compro e muito mais coisas típicas de uma livrólica assumida.

Muito obrigada e desculpem estar desaparecida!









Berta Isla, de Javier Marías


Ficha técnica
TítuloBerta Isla
Autor – Javier Marías
Editora – Alfaguara
Páginas – 496
Data de releitura – de 28 de abril a 08 de maio de 2019

Opinião
         Quanto daquilo que nos dizem pode ser ou não ser, pode ser o mais decisivo e o mais indiferente, o mais inócuo e o mais crucial, aquilo que afecta a nossa existência e aquilo que nem sequer a toca de raspão.” (pág. 191)

        
         Nunca é fácil escrever sobre uma obra de Javier Marías e esta não será exceção.
         Se consultarem a banda lateral do blogue, dar-se-ão conta de que esta foi a quinta obra que li deste primoroso autor (ouvi este adjetivo ontem, num vídeo de um booktuber que sigo e acho que espelha na perfeição a escrita de Marías). Ter lido todas essas obras dá-me algum traquejo para estruturar esta opinião e destacar aquilo que, sem dúvida, as caracteriza a todas – o estilo do autor é intricado, denso, a ação perde o protagonismo em prol de um discurso repleto de pensamentos, divagações e de citações que ilustram o vastíssimo conhecimento que Marías tem da literatura mais clássica.
         Outro aspeto que está presente em todas as obras que já li deste autor espanhol é o facto de todas as premissas arrancarem com um acontecimento emocionante e arrebatador que prende a atenção de qualquer leitor. Contudo, sei, tenho consciência de que não é qualquer leitor que seguirá com a leitura mal se aperceba de que, por muitos laivos de thriller ou suspense que tenha esse acontecimento que abre a narrativa, o que se lhe seguirá é tudo menos isso. Ora, quando abri as “hostes” de Berta Isla, estava à espera desse início memorável e transtornador, mas, para alguma surpresa minha, tal não aconteceu ou pelo menos não aconteceu de uma maneira tão evidente e tão “abananadora”. O “twist” está lá, é verdade, mas é mais suave, não há um acumular repentino de surpresa que só terá respostas no final da obra, há sim um abrir de pano algo intrigante, à boa maneira de Marías, que se desenrolará ao longo de quase 500 páginas e nos trará nos derradeiros capítulos factos dos quais não estávamos à espera (pelo menos eu não estava). E no meio desse início e desse final está tudo aquilo que me agrada em Javier Marías, mas que pode assustar os leitores menos precavidos e que caem no engodo provocado pelas primeiras páginas…
         Aproveitando a palavra engodo, a palavra ardil, a palavra cilada, a palavra engano e a citação que, propositadamente, pus no início deste texto, abro-vos um pouco mais o pano da narrativa que se centra num jovem casal espanhol. Tomás ou Tom Nevinson é filho de pai inglês e mãe espanhola. Berta Isla é madrilena de gema e desde muito cedo que soube que um dos projetos da sua vida seria casar com Tomás. Assim o fez. Contudo, nunca lhe passou pela cabeça que a maior parte dos anos de casada os iria passar sozinha, numa cama que pouco ou nenhum vestígio conservaria do seu marido e que, mesmo assim, nunca o iria abandonar ou trocar por outro. Paralelo a esta trama que parece algo corriqueira e já habitual nas obras de Marías, temos páginas e páginas daquilo que seguramente deve dar mais prazer ao autor e que é o que o define – as divagações, as reflexões, as colheradas de citações muito assertivas e relacionadas com a trama e um cuidado com as palavras como muito poucos autores demonstram ter.
         Como vocês podem ver na ficha técnica, eu demorei mais de 10 dias a ler esta obra e não foi somente por causa das suas 496 páginas. Foi porque as mesmas são densas, a mancha gráfica ocupa quase toda a página, há muito poucos diálogos e, quando existem, as falas são longas e, como já disse, a ação nas obras de Marías perde muito protagonismo para as outras características que abundam no estilo do autor. Tudo isto fez com que a leitura fosse algo lenta e que eu demorasse mais tempo a saboreá-la. Confesso que gostei muito de ter a obra comigo durante os dias finais de abril e os primeiros de maio, mas não posso dizer que tenha sido uma leitura que me tivesse preenchido tanto como a de Coração tão Branco, que continua a ser a minha favorita de todas as que li de Javier Marías. Achei a narrativa de Berta Isla mais parada, um pouquinho aborrecida em alguns momentos e gostaria que a protagonista que dá nome à obra tivesse mais espaço e “reconhecimento” como personagem principal porque já não me lembro da última vez que li uma obra na qual a protagonista tem quase sempre comportamentos de não-protagonismo. Contudo, para dar-lhe a pontuação que lhe vou dar, tenho que referir que é uma delícia privar com uma escrita tão rica e entrar numa história que aborda o passado recente (anos 70 e 80) de Espanha e de Inglaterra e “esbarrar” com factos e personalidades históricos tão impactantes como foram o fim da ditadura em Espanha, a curtíssima Guerra das Malvinas, as lutas armadas da ETA e do IRA ou a Dama de Ferro que governou o Reino Unido entre 1979 e 1990.
         Termino este texto que já vai longo dizendo, por um lado, que embirrei muito (sobretudo no início – depois tive que habituar-me…) com a tradução da obra, que peca em algumas expressões idiomáticas e na estrutura das frases e, por outro, que foi com esta leitura que encerrei um mês (o de abril) quase todo ele dedicado ao meu projeto – En abril leemos en español.
         Se já leram Javier Marías – esta ou outras obras – digam-me tudo!
         Obrigada, Luisinha, por me teres oferecido esta obra! Thanks, dear!

         NOTA – 08/10

         Sinopse
         Berta casou com Tomás pensando que o conhecia desde sempre mas, na realidade, não sabia nada verdadeiramente importante sobre ele. Tomás escondia-lhe algo que não podia partilhar com ninguém, nem mesmo com ela. Berta Isla é a história de um homem que quer intervir na História, acabando desterrado do mundo. É a história de uma mulher que espera por uma vida completa e, nessa espera, se transforma. É sobretudo uma história da fragilidade e tenacidade de uma relação condenada ao segredo, ao fingimento, ao desencontro; uma história de amor em que lealdade e ressentimento se entrelaçam.